A cultura da cooperação é uma ideia nova cujo resultado é pautado no diálogo que se baseia no relacionamento de interdependência entre pessoas com diferentes potencialidades, com o objetivo de alcançar um bem comum, por meio de uma relação de convivência e confiança.
É também um conjunto de práticas e ações sociais, alicerçadas em crenças e princípios positivos, aprendidas, praticadas e partilhadas em conjunto, onde cada indivíduo sente-se parte do mesmo todo, corresponsável pelo bem comum. A consciência de satisfação das necessidades através do processo cooperativo estimula o exercício da empatia e da compaixão, proporcionando sentido e segurança ao grupo, estimulando autoestima e a confiança mútua.
O desafio real da cooperação não é técnico enquanto ferramenta de gestão, técnicas de produção ou formas organizativas. O grande desafio é a cultura, uma vez que nossa sociedade ainda é dominantemente competitiva,
não privilegiando o aprendizado de trabalhar junto como forma de alcançar resultados.
Superar esse desafio tem sido uma conquista para muitas pessoas que já descobriram e multiplicam a cooperação como prática cotidiana. “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” (Einstein). Abrir ao novo é ampliar a relação com o mundo. A cooperação é tão antiga quanto à humanidade e sua prática como diferencial competitivo é uma das grandes novidades do nosso tempo.
No meio empresarial, a cooperação é pautada por uma busca de mais representatividade no mercado, de melhoria na governança da cadeia produtiva e de aumento da competitividade dos negócios envolvidos. Portanto, cooperar significa criar um meio para alcançar um objetivo comum. E, para isso, é preciso trabalhar em conjunto.
Mas a cooperação conta ainda com outro lado, o da competitividade. Embora essa palavra possa ter uma conotação que sugira algo negativo, ela é fundamental para a sobrevivência dos pequenos negócios no mercado. Assim, o que a princípio parece um contrassenso, torna-se um importante meio de sobrevivência ou crescimento no ramo dos negócios, principalmente para os pequenos negócios.
Associar-se a outras organizações facilita que os empreendimentos alcancem seus objetivos, o que não seria possível se atuassem isoladamente. Em conjunto, há ampliação do acesso aos mercados, aumento do poder de compra e venda, redução de custos, entre outros.
A cooperação está cada vez mais presente nas discussões e debates de alternativas para acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países como parte da solução para diversos problemas de uma sociedade mais complexa. Nesse contexto, a cooperação entre as pequenas empresas tem se destacado como um meio capaz de torná-las mais competitivas. Fortalecer o poder de compras, compartilhar recursos, combinar competências, dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas oportunidades e oferecer produtos em qualidade superior. Diversificadas são as estratégias cooperativas que têm sido utilizadas com mais frequência, anunciando novas possibilidades de atuação no mercado.
Várias dessas estratégias cooperativas ganham um caráter formal de organização e caracterizam-se como empreendimentos coletivos. Existem muitas modalidades de formalização institucional desses empreendimentos. Destacam-se as associações, as cooperativas, as centrais de negócios, os consórcios de empresas, as sociedades de propósito específi cos, a sociedade de garantia de crédito, entre outras.
Pela cooperação é possível criar um diferencial competitivo para os pequenos negócios rurais e urbanos, contribuindo para sua perenidade e crescimento. Os desafios são muito grandes e as oportunidades também. A conclusão é cada vez mais óbvia que as empresas que se mantiverem isoladas, agindo sozinhas, terão mais difi culdades em enfrentá-los e em se manterem competitivas. Isso é particularmente verdade para os pequenos negócios, que acessam com mais dificuldades os serviços financeiros e que apresentam carências nos campos gerenciais e tecnológicos.
Aprender a trabalhar em conjunto, estabelecendo e mantendo relações de parceria, passa a ser uma nova fronteira para ampliar a competitividade dos pequenos negócios. A cooperação é uma estratégia que pode ampliar, de forma inovadora, a competividade dos pequenos negócios.
Princípios e valores da cooperação
Para falar da cultura da cooperação é preciso conhecer os princípios e valores que fundamentam as ações coletivas e dão suporte à operacionalização dos empreendimentos coletivos.
Identificar e estabelecer os princípios e valores que norteiam a conduta das pessoas que empreendem coletivamente não é tarefa fácil. É necessário muito diálogo e consenso para definição dos princípios e valores que prevalecerão no grupo, fundamental para o trabalho coletivo. É preciso internalizá-los entre gestores e colaboradores envolvidos na associação para que as mudanças ocorram. Toda mudança só é possível de dentro para fora. Essas mudanças exige um novo comportamento, que infl uencia a mudança do ambiente em que elas se encontram. Por sua vez, esse novo ambiente passa a exigir um novo comportamento, num círculo virtuoso e vicioso de transformação social, em que a ética predomina.
São princípios da cooperação: objetivos comuns e coesos, visão comum, articulação, confiança, valores compartilhados, interdependência, autonomia, ações comuns, consenso e integração. Além desses princípios, a cooperação apresenta, também, determinados valores que são importantes no dia a dia das relações entre os participantes do empreendimento coletivo, que são: participação, respeito pelas pessoas, transparência, honestidade, complementariedade, igualdade, aprendizagem e solidariedade.
Ver mais: Cultura da Cooperação, Série Empreendimentos Coletivos, Sebrae.
BGC | Edição | março 2020